Nascido a 29 de dezembro de 1982, na cidade de Salvador (Bahia), o compositor, cantor, instrumentista, poeta, produtor musical, diretor artístico, curador, pesquisador, professor e tradutor Tiganá Santana iniciou seus estudos musicais de violão aos 14 de anos, na sua terra nativa, com Alberto Batinga. Começou a compor ainda nessa fase, após, desde os 9 anos, ter tido a experiência da escrita poética.
O fato de Tiganá Santana ter sido o primeiro compositor brasileiro, na história fonográfica do país, a apresentar um álbum, como compositor, com a presença de canções em línguas africanas, relaciona-se com grande parte do seu trajeto de formação, como também diz respeito aos seus interesses por adentrar mundos não ocidentais. O álbum aludido apresenta-se por nome “Maçalê” (“você é um com a sua essência”, em yoruba arcaico) e foi disponibilizado para o amplo público, digital e fisicamente, entre o final do ano de 2009 e o início do ano de 2010. Em 2008, tendo sido contemplado pelo Edital de Apoio a Conteúdo Digital de Música, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, pôde lançar o referido primeiro álbum.
Em 2013, lançou o segundo registro fonográfico, “The Invention of Color”, que teve, no seu projeto gráfico, aquarelas e desenhos originais concebidos pelo artista-curador Emanoel Araújo. Tal álbum contou com um prêmio concedido pelo Departamento de Cultura da Suécia, país em que foi gravado, que propiciou a realização de todo o seu projeto artístico-musical. Ainda nesse ano, foi contemplado por uma bolsa da UNESCO-Aschberg (Programa de bolsas para artistas e profissionais de cultura), por meio da qual esteve em Residência Artística no Senegal (precisamente, no Espace Sobo Bade, situado na cidade de Toubab Dialaw).
Após 5 meses, ao final da Residência, tendo sido também contemplado pelo Edital Petrobras Cultural, gravou, em conjunto com músicos da África do Oeste (Senegal, Guiné-Conacri e Mali), o álbum duplo que viria a chamar-se “Tempo & Magma”, lançado em 2015, e que teve uma etapa de sua gravação no Brasil para que se configurassem as participações da cantora CéU e da reconhecida escritora-pensadora e sacerdotisa de religião de matriz africana do Ilê Axé Opô Afonjá, Sra. Maria Stella de Azevedo Santos (conhecida como Mãe Stella de Oxossi), primeira religiosa do Candomblé a fazer parte de uma Academia de Letras (Academia de Letras da Bahia).
Canções desses dois últimos álbuns figuram entre as mais ouvidas pelo público europeu, segundo os dados do World Music Charts. Após o lançamento dos seus três primeiros álbuns, Tiganá Santana foi eleito um dos dez músicos fundamentais da música atual brasileira pela conceituada revista inglesa especializada em música, Songlines.
Dirigiu a produção artístico-musical de outros projetos, como no caso dos dois últimos álbuns da cantora brasileira Virgínia Rodrigues (o penúltimo destes, “Mama Kalunga”, de 2015, rendeu-lhe o prêmio de melhor cantora no Prêmio da Música Brasileira em 2016).
No ano de 2020, lançam-se os álbuns “Vida-Código” — agraciado pelo Edital de Publicação Musical do Departamento de Cultura da Suécia — e “Milagres”, feito sob solicitação de uma gravadora alemã, a Martin Hossbach, para revisitar, hodiernamente, o emblemático álbum “Milagre dos Peixes”, do intérprete e compositor Milton Nascimento, com letras musicais censuradas pelo regime ditatorial militar do Brasil em 1973. Houve a pré-estreia do referido projeto cênico-musical, em julho de 2019, no Festival de Avignon, um dos mais relevantes festivais de teatro (e de artes da cena) da Europa. Lança-se, também, o mais recente álbum da cantora Virgínia Rodrigues, baseado em composições de mulheres de países que tiveram contato com a Língua Portuguesa, o qual Tiganá concebeu e dirigiu, artisticamente, sob o título “Cada voz é uma mulher”. O artista também concebeu e dirigiu, artisticamente, um espetáculo musical — “Dorival Negro Caymmi” — que homenageou parte da obra do compositor e pintor brasileiro Dorival Caymmi focada nas raízes culturais negras.
Ao longo dos últimos 13 anos, Tiganá Santana excursionou, ininterrupta e frequentemente, por países europeus, africanos e asiáticos sempre priorizando, ao lado da construção artística, os encontros interculturais e a recolha de aspectos relevantes das culturas locais, dentro de como as poderia interpretar.
Paralelamente, difundiu os trabalhos artísticos, as reflexões e as pesquisas por meio de diversas apresentações e entrevistas em rádios, jornais, revistas e televisão como a rádio BBC de Londres, o jornal francês Le Monde, a Revista Carta Capital, os jornais Folha e Estado de São Paulo, jornais A Tarde e Correio da Bahia, Rádio Cultura de São Paulo, Rádio Senado, TV4 da Suécia, Radio France Internationale, Polskie Radio (da Polônia), entre outros.
Fez a curadoria da maior exposição registrada sobre a cantora e compositora brasileira D.Ivone Lara, quando ela completou 94 anos de vida, no espaço expográfico do Instituto Itaú Cultural, em 2015, e compôs trilhas sonoras para dois filmes nacionais (“Mocambo Akomabu” e “A última abolição”) e um filme chinês, em parceria com o produtor musical sueco Andreas Unge, ainda por ser lançado. Participou de documentários, como o próprio “Mocambo Akomabu”, do qual foi narrador, o francês “Obá Obá Obá”, sob direção de Benjamin Rassat, em que atuou, e “Aprender a ler pra ensinar meus camaradas”, de João Guerra, do qual participou com falas registradas.
Em 2013, Tiganá publicou o livro de poemas “O oco-transbordo” pela editora Rubra Cartoneira, de Londrina. Posteriormente, em 2016, sob formato interartístico, elaborou, com a colaboração da artista visual Clara Domingas, um experimento audiovisual, “Não se traduzem os feitiços”, cujo projeto havia sido escolhido pela comissão do edital cultural da Natura, que percorreu capitais no Brasil como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Tal projeto configurou-se após a imersão em setores culturais do Cabo Verde e numa aldeia tupinambá em Olivença/BA, desenhando, assim, uma conexão reflexivo-criativa afro-ameríndia.
Em 2010, foi convidado por curadores da Bienal de São Paulo, na sua vigésima nona edição, para apresentar uma performance criativa. Na sequência, Tiganá Santana estendeu o convite ao Professor Doutor Maurício Salles de Vasconcelos, vinculado ao quadro docente do Programa de Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, para que, juntos, realizassem a performance, unindo poesia do continente africano, música afrodiaspórica e Artes da Cena. Desse modo, foi apresentada a performance “Linguagens Espraiadas: afropoética presente”.