Maçalê [2010]

Em yoruba, maçalê quer dizer “você é um com a sua essência”. A intenção é mostrar ao público a valorização das matrizes africanas de uma forma autoral, resultado das suas buscas pelas origens do continente negro e miscigenação brasileira. É a primeira obra na história fonográfica do país que contém canções em línguas africanas (Kikongo e Kimbundo) compostas por um artista brasileiro.

É neste contexto que a a identidade do povo baiano é revelada, misturando sua estética às canções de outras partes do planeta, o que rende seu caráter universal. O trabalho de Tiganá Santana enquanto compositor consolida suas pesquisas sobre o legado cultural dos países africanos, principalmente Angola, Congo-Kinshasa e Congo-Brazzaville, e redimensiona a marca sociolingüística deixada por estas nações para a história do povo brasileiro.

As melodias transbordam a mistura dos mais diversos sons da África e mesclam instrumentos como atabaque e flauta, sax e agogô, violão e berimbau, feitas por ele e experiente equipe de músicos e artistas convidados. Virgínia Rodrigues, Roberto Mendes e Mou Brasil integram as participações especiais nesse trabalho. As canções de Tiganá emanam do silêncio e apresentam uma profundidade que remete às mais antigas tradições do continente africano.

Tanta transpiração ligada à origem afro-brasileira virou alvo das pesquisas do antropólogo e jornalista Marlon Marcos. Ele remete o surgimento do artista como uma novidade musical imersa na ancestralidade das raízes africanas. ”Uma arte dedicada à divindade, sem delongas nem vergonha, tematizando sua espiritualidade, resgatando o deísmo de seus ancestrais”. E ressalta sobre o trabalho de Tiganá: “Não é o de um artista que pode parecer um eclético cultor de neo-africanidades, mera cria do tropicalismo, ou uma repetição estética para ações afirmativas da política militante dos negros no Brasil”. Segundo ele, Tiganá vai além da agilidade conceitual que a mídia geralmente busca ao apresentar uma novidade e fazer com que a música seja inteligível aos seus próprios olhos e ouvidos do grande público.

O álbum foi gravado em Salvador/BA, no estúdio Curva do Tempo, por Alex Mesquita, e produzido com o apoio institucional do Fundo de Cultura do Estado da Bahia, pela Putzgrillo!, com direção musical de Luiz Brasil.

Ouça o álbum na íntegra: